domingo, 30 de outubro de 2011

DISSE A POETIZA... Era a saudade que se despedia, dando lugar à esperança que renascia.



A ESPERANÇA COMO QUE DE CRIANÇA
   Estendi os braços e peguei uma carona 
num aviãozinho de papel que passou bem 
perto de mim. Agarrei forte em suas asas e, 
nesse instante, o vento abrandou sua 
força para não bater, só acariciar. Não sabia 
para onde ia o aviãozinho e nem tinha um 
destino programado, só queria voar dali 
para algum lugar que me trouxesse algo que 
eu já não sabia mais onde estava.
        No instante em que levantei os braços senti 
uma energia benéfica, como uma voz garantindo
segurança e pedindo apenas confiança. 
Me deixei levar pelo vento que se transformou 
em brisa, sobre campos que acenavam pra mim, 
entre nuvens que abriam caminho pra eu poder
enxergar longe o azul simples e intenso.
        O sol, amarelinho e purpurinado, 
gentil como ele só, diminuiu os raios que 
mandava em direção a Terra só pra não 
me queimar, e sorriu, glorioso, 
um riso de amizade e segurança. 
Os pássaros acompanhavam meu vôo incrível 
fazendo piruetas e cantando, com a simpatia 
única de amigos que eu nunca conheci, 
mas que sempre estiveram lá.
        E cada vez que eu me desequilibrava, 
a terra lá em baixo se afofava, gritando para 
que eu me segurasse pra não perder o destino, 
mas caso caísse, me acolheria como um travesseiro 
gigante de plumas. E o ar era fresco e abundante... 
pacífico e só.

        Então o aviãozinho olhou pra mim e perguntou

onde eu gostaria que ele me levasse. Foi quando eu
levantei meus olhos para o céu e gritei: “onde estárá?”. 
E num cochicho arrepiante o céu indicou ao aviãozinho 
amigo o lugar certo para me deixar.
        Fui percebendo que a velocidade do meu vôo
ia diminuindo, que, de leve, ia caindo, chegando 
mais perto do chão. E quando meus pés já se aproximavam 
de um solo que eu nunca pisei, brotaram, repentinas, 
flores coloridas e muito vívidas, sobre um campo verde 
e viçoso que abriu os braços para me receber.
        De repente senti os pés tocarem o chão, 
os braços soltarem o aviãozinho, que me olhou 
e sorriu o sorriso mais leve e sincero que 
eu já vi num tom de despedida. O vento se fez ainda 
mais brando, o ar, agora mais quente e o 
Sol totalmente iluminado. Até que o silêncio 
tomasse por completo aquele lugar e eu, 
parada em meio a um paraíso gigante que 
oferecida de si toda a paz. Foram embora 
meus amigos, acenando de longe, 
espalhando perfume naquela imensidão.
        Baixei os olhos da direção do céu pra 
contemplar aquela vista. A natureza fazia 
ciranda em volta de mim enquanto o mundo 
fazia silêncio e suspense, até que uma voz suave e 
misteriosa me disse: “Está aqui...”. 
Girei sobre mim mesma, sem saber pra onde ir e, 
confusa, fechei os olhos como quem não podia acreditar.
        Disparei por entre as flores do campo que 
sorriam ao me dar passagem até ouvir de volta 
o som da vida, baixinho, delicado, anunciando 
que os sonhos nunca são em vão. Até que avistei, 
a uma distância tão generosa, o brilho daquilo 
que eu procurava há tanto tempo, de quem tinha 
se escondido de mim sem me ensinar a esquecer. 
Abriu os braços diante de mim como um mar, 
transparente e limpo onde eu mergulhei.
        Quando percebi, dentro daquele abraço 
eu pairava pelo ar novamente. Reapareceram 
meus amigos filhos do tempo, da natureza, 
do universo, meu aviãozinho de papel, abrindo-se 
em forma de poesia, saudando aquela felicidade 
que se concretizava bailando céu adentro. 
Era a saudade que se despedia, dando lugar 
à esperança que renascia.
Aliz de Castro Lambiazzi

Nenhum comentário:

Postar um comentário