sexta-feira, 19 de agosto de 2011

FUNDO DO BAÚ: Flamengo, a historia de um time super campeão



Retrato da paixão pelo futebol


Dono da maior torcida do Brasil, o Flamengo é sinônimo de paixão no maior cartão-postal do país, o Rio de Janeiro. Mas é impossível não encontrar um flamenguista mesmo nos mais longínquos cantos do Brasil. O clube reúne uma torcida apaixonada e fanática que, como diz o seu popular hino, será “Flamengo até morrer”.

O Flamengo sempre foi uma referência para o futebol brasileiro, com craques como Leônidas da Silva ou Zizinho. Mas só na década de 70 o rubro-negro conheceria o maior ídolo de sua história: Zico, o "galinho de quintino". Com ele, o Flamengo conseguiu todos os títulos possíveis para um clube de futebol. Campeão carioca, brasileiro, sul-americano e mundial, o rubro-negro de Adílio, Leandro, Júnior e Zico dava um banho de técnica sempre que entrava em campo.

Após Zico, outros astros vieram, como Bebeto, Sávio e Romário. Mas as conquistas deixaram de ser tão freqüentes. Pelo menos uma coisa nunca mudou: a paixão do torcedor rubro-negro pelo seu clube. Afinal, uma vez Flamengo, sempre Flamengo.

1895 – 1911 — Do “rowling” ao “football”

O remo, ou “rowling”, era o esporte da moda no fim do século XIX no Rio de Janeiro. Aqui e ali surgem clubes para a sua prática. Numa manhã de sol tipicamente carioca, sete jovens, liderados pelo guarda-livros Nestor de Barros, se reúnem na praia do Flamengo dispostos a fundar um “grêmio” que possa representar o bairro nas competições. O primeiro passo foi comprar uma “baleeira”, a Pherusa. No domingo, 6 de outubro de 1895, a embarcação ganha as águas da Baía de Guanabara. O passeio não foi lá muito bem-sucedido: a tempestade que chegou no fim da tarde fez a Pherusa naufragar, e os sete jovens salvaram-se quase que por milagre. Nada, entretanto, seria capaz de fazê-los desistir do seu objetivo.

 Orla maritima do bairro do Flamengo

O naufrágio da Pherusa foi registrado na edição de 9 de outubro do “Jornal do Commercio”. Além de Nestor, integravam o grupo Felisberto Laport, Joaquim Leovegildo dos Santos Bahia, José Agostinho Pereira, José Félix da Cunha, Maurício Rodrigues Pereira e Mário Spíndola. Foram todos resgatados pela lancha Leal, que voltava das comemorações da tradicional Festa da Penha. A Pherusa também retornou ao Cais Pharoux, rebocada. Mas sem ter quem que pudesse vigiá-la acabou sendo roubada. Logo seria necessário uma outra “vaquinha” para a compra de uma nova embarcação.

Quarenta dias após o naufrágio, Nestor de Barros convocou nova reunião, “aberta a todos os interessados”. A idéia de fundar um “gêmio” amadurecera, e o encontro foi dos mais animados. No dia 17 de novembro de 1895, 14 rapazes compareceram ao casarão do número 22 da praia do Flamengo, onde o incansável guarda-livros alugava um cômodo. Após duas horas de debates, eles assinaram a ata de fundação doGrupo de Regatas do Flamengo”. O guarda-marinha Domingos Marques de Azevedo, que chegara a atrasado à reunião e que fora ao 22 movido apenas por uma confessa “curiosidade”, impressionou pela articulação. Assim, acabou sendo eleito o primeiro presidente do clube. De acordo com a memória histórica organizada na década de 20 pelo ex-presidente Álvaro Zamith, assinaram a ata de fundação, além de Domingos e de Nestor, mais treze jovens. 

 Por sugestão de Spíndola, as cores escolhidas para o clube foram o azul, “da Baía de Guanabara” e o ouro “das nossas riquezas”. Definiu-se também que a fundação seria sempre comemorada no dia 15 de novembro, data da Proclamação da República. 

Time do Flamengo em 22/08/1915

Time do Flamengo em 1916

6Na primeira regata oficialmente disputada, em 7 de dezembro de 1895, o Flamengo chega em último lugar, atrás do Gragoatá e do Botafogo. Durante algum tempo, aliás, o clube amarga posições secundárias. Coincidência ou não, o fato é que as primeiras vitórias só começam a surgir após a assembléia de 23 de novembro de 1896, quando a diretoria troca as cores dos uniformes para vermelho e preto. Na “Regata Comemorativa do IV Centenário da Descoberta do Brasil”, em 6 de maio de 1900, o Flamengo ganha todas as medalhas de ouro. E passa a ser definitivamente respeitado.

Em 1902, aprova-se a proposta do poeta Mário Pederneiras, um entusiasta das regatas, de trocar o “Grupo” pelo “Club” no nome oficial. Mas apesar das vitórias alcançadas na primeira década do século, a sede rubro-negra continuava a ser na garagem do casarão do número 22. E os próprios sócios eram obrigados a cuidar da conservação dos barcos. Curiosamente, uma cisão em um outro clube, de futebol (Fluminense), transformaria a vida do Flamengo, tornando-o um dos mais populares do Brasil.

                                         PAI     X       FILHO
 
Tudo começa no dia 21 de setembro de 1911, na Pensão Almeida, no bairro do Catete, onde reúnem-se jogadores do aristocrático Fluminense. Eles estão insatisfeitos com o “ground committee” do time, que barrara o centroavanate Alberto Borgerth, escalando em seu lugar o zagueiro Ernesto Paranhos. Decide-se pela debandada geral. Consciente de sua importância, o grupo ainda cumpre a promessa de derrotar o América (2 x 0) e conquistar o título carioca pelo tricolor. Mas no dia seguinte todo mundo anuncia o seu desligamento. O próximo passo é encontrar um clube que ainda não pratique o futebol e que possa aceitá-los.

Na noite de 8 de novembro de 1911, a proposta é apresentada ao Flamengo, por iniciativa de Alberto Borgerth. O pessoal do remo, que considerava o futebol um esporte “de pulinhos de bailarina”, mostra-se contrário. Os debates prosseguem até o dia 24 de dezembro. Nessa data, nova assembléia, orientada pelo recém-empossado presidente rubro-negro, Edmundo Azurém Furtado, aprova enfim a criação de um “Departamento de Desportos Terrestres”. Transferem-se para o clube, além de Borgerth, os ex-tricolores Armando de Almeida, o “Galo”, Emmanuel Nery, Ernesto Amarante, Gustavo de Carvalho, Lawrence Andrews, Orlando Sampaio Mattos, o “Baiano”, Othon Baena de Figueiredo e Píndaro de Carvalho Rodrigues.

1912 – 1919 — Papagaio-de-vintém, cobra-coral e o bicampeonato

No dia 9 de janeiro de 1912, o Flamengo ingressa na Liga Metropolitana de Sports Athléticos (LMSA), a entidade que dirige o futebol carioca. Na primeira partida disputada pelo clube, em 3 de maio, válida pelo Campeonato Carioca, o rubro-negro derrotou o Sport Club "Rio Grande" Mangueira por 16 x 2. Gustavo de Carvalho fez o primeiro gol e mais outros quatro. Arnaldo (4), Amarante (4), Borgerth (2) e Galo completaram. Levi e Otávio marcaram para o adversário. O jogo foi realizado no campo do América, na Tijuca, e o time jogou com Baena, Píndaro e Nery; Lawrence, Gilbert e Galo; Baiano, Arnaldo, Amarante, Gustavo e Borgerth.
 
Naquele primeiro campeonato, o Flamengo foi apenas vice, atrás do Paysandu. E perdeu o primeiro duelo com o Fluminense, no dia 7 de julho, no estádio das Laranjeiras. O tricolor, com jogadores que foram reservas dos titulares rubro-negros, venceu por 3 x 2. Em 1913, o clube voltou a ficar em segundo lugar. Os dois vices reforçaram a tese de que o primeiro uniforme do futebol, de camisas e meias de grandes quadrados vermelhos e pretos, e de calções brancos, não trazia sorte.
 
O pessoal do remo, a princípio, não permitiu que o futebol utilizasse a sua roupagem. Mas na realidade todos concordaram que o traje original, importado da Inglaterra pelo tesoureiro Hugh Pullen, era de um mau gosto exemplar. O carioca, sempre bem-humorado, logo apelidou-o de “papagaio-de-vintém”. Assim, em 1914 o Flamengo trocou o uniforme: adotou uma camisa de listras vermelhas e pretas horizontais, intercaladas por riscas brancas de menor espessura. Só a cor dos calções permaneceu. As meias passaram a ser negras.
 
Chamado de “cobra-coral”, o novo uniforme espantou o azar. Em 1914 e 1915, o rubro-negro foi bicampeão carioca, perdendo apenas uma das 24 partidas disputadas, por 2 x 1 para o Botafogo, no primeiro campeonato. Os destaques do time eram os zagueiros Píndaro e Nery, heróis da primeira Copa Roca ganha pela Seleção Brasileira contra a Argentina, em 1914, e o centro-médio Sidney Pullen, um inglês que se adaptou com perfeição ao futebol brasileiro.
 
Apesar de já possuir um quadro representativo de quase 500 associados, o Flamengo só conseguiu inaugurar seu estádio em 31 de outubro de 1915, na vitória de 5 x 1 sobre o Bangu. Foi construído em um terreno localizado na Rua Paysandu, vizinho ao Fluminense, e pertencia à tradicional família Guinle. O clube arrendou-o por 500 mil réis mensais. Mas o estádio não trouxe os resultados esperados em seus primeiros anos de vida. 
 
Em 1916, o Flamengo ficou em quarto lugar; em 1917, em terceiro; em 1918, novamente em quarto e em 1919 foi vice.


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